Os formadores da Ordem se reuniram em Bogotá para explorar a profunda arte do acompanhamento espiritual sob o tema “Acompanhar o caminho de volta ao coração”.
Durante esse encontro, redigiram uma carta dirigida a toda a família agostiniana recoleta, na qual refletem sobre o papel do acompanhamento espiritual na formação inicial, seus desafios e esperanças na atualidade.
Queridos irmãos e irmãs,
Nossos pensamentos se dirigem a todos vocês que fazem parte de nossa família agostiniano-recoleta: frades, monjas, religiosos, formandos, membros das fraternidades seculares, do CEAR, do JAR, do ARCORES, das Mães Mônicas; e a todos aqueles que se solidarizam com nossa maneira de viver e servir na Igreja.
Os formadores/acompanhantes agostinianos recoletos espalhados por todo o mundo se reuniram na cidade de Bogotá, Colômbia.
Desde estas terras banhadas pela fé e pela dedicação missionária de tantos de nossos irmãos, entre eles Santo Ezequiel Moreno, queremos dirigir-lhes algumas palavras.
1. um olhar cheio de gratidão
Nossos olhos se voltam, mais uma vez, para o passado, não com a tentação de pensar que o passado foi melhor do que o presente que estamos vivendo, mas para voltar à nossa história e perceber que houve inúmeros religiosos que se desgastaram na formação e no acompanhamento, na evangelização e na educação, na missão e no serviço aos outros.
Olhando para trás em nossa história, percebemos que não somos o produto circunstancial de um momento histórico, mas que somos parte da ação amorosa de Deus que, em sua bondade, quis suscitar em sua Igreja e para seu povo um carisma muito específico: a Recoleção Agostiniana.
E, neste século XXI, somos herdeiros e guardiões desse carisma que desejamos ardentemente manter vivo para as próximas gerações.
2. O momento atual: desafios e esperanças
No discurso do Papa Francisco à Cúria Romana em dezembro de 2019, ele lembrou que “não estamos simplesmente vivendo em um tempo de mudança, mas em uma mudança de época”.
Essa mudança traz consigo grandes transformações que todos nós podemos perceber e que podem ser sentidas na sociedade e na Igreja.
E também estamos experimentando esses desafios em nossas casas de formação: a redução considerável do número de candidatos, a acentuação de certos traços frágeis neles, a falta de perseverança na vocação e a dificuldade de formar equipes de formação estáveis.
No entanto, há também lampejos de esperança: Os jovens que batem à porta querendo conhecer nosso carisma, os grupos de jovens desejosos de experimentar a vida comunitária, as pessoas que vêm aos nossos centros de espiritualidade em busca de um encontro com Deus, as propostas inovadoras da Escola de Formação da Ordem, que reúne muitas pessoas para se capacitarem na arte do acompanhamento, o sério compromisso de criar ambientes seguros em nossas comunidades, a solidariedade com os necessitados por meio de vários projetos ARCORES, os formadores/acompanhantes comprometidos em dar o melhor de si nos itinerários vocacionais, etc.
3. Uma nova etapa com o Redi ad cor
Vivenciamos essa reunião de formadores da Ordem como um momento de reflexão e renovação.
Concentramos nossas energias em conhecer o documento que se tornará o novo Plano de Formação, intitulado: Redi ad cor et inde ad Deum.
Estamos convencidos de que esse documento não representa uma ruptura com o passado, mas uma adaptação aos desafios da formação no momento atual.
Este Plano de Formação propõe o caminho do retorno ao coração como a rota precisa para voltar ao próprio espaço interior e, a partir daí, lançar-se em direção a Deus sem reducionismos íntimos.
Propõe uma formação orientada a tornar possível processos de amadurecimento vocacional no carisma agostiniano recoleto.
Este documento é uma janela pela qual se introduz a novidade de Deus nas comunidades.
A luz que este Plano lança é que a formação inicial está chamada a nos levar a todos à formação permanente.
4. A arte do acompanhamento
Consideramos o acompanhamento como uma arte; não uma arte meramente humana, mas uma misteriosa sinergia entre o divino e o humano, na qual quem acompanha e quem é acompanhado se descobreem dinamizados pela presença do Espírito Santo.
Nesse sentido, o acompanhante agostiniano recoleto, discípulo de Cristo humilde, acompanha processos pessoais baseados na escuta atenta da Palavra.
De tal maneira que não é movido apenas por razões humanas, mas pelas inspirações do Espírito Santo.
Foi muito bom para nós, formadores, lembrar a imagem bíblica da sarça ardente no livro do Êxodo (cf. Êxodo 3,4-5).
O companheiro, no momento em que entra na terra sagrada e pessoal de sua companheira, tira as sandálias dos pés e caminha por ela com delicadeza, com absoluto respeito e com muita caridade.
Ele entra na história de vida da pessoa acompanhada, pedindo permissão e agradecendo.
Como formadores/acompanhantes, estamos cientes de que o primeiro e principal formador é Deus.
No entanto, sabemos que isso não nos isenta da responsabilidade pessoal de nos treinarmos para sermos cada vez mais competentes na arte de acompanhar os processos dos irmãos e irmãs que Deus colocou ao nosso lado.
5. O carisma agostiniano recoleto: um dom para a Igreja
Nossa vocação é um presente de Deus!
Estes dias de encontro foram para nós uma bela ocasião para renovar nossa vocação de agostinianos recoletos.
Voltamos ao coração, compartilhamos a alegria de sermos irmãos e revisamos a qualidade de nosso serviço na formação.
Todas essas ações são a expressão do dinamismo próprio de nosso carisma.
No final destas cartas, pedimos a vocês que rezem por nós com esta simples oração, para que possamos realizar nosso acompanhamento formativo como um serviço de caridade em favor da Ordem e da Igreja.
Você, Senhor, é um peregrinoe ao nosso lado você caminha,você é nosso companheiro nos caminhos que dão vida.
Em nosso serviço de acompanhamento, dê-nos suas palavras gentis,que acendem o coraçãoe dissipam as dúvidas internas.
Que possamos aprender com você, Senhor,a acompanhar nossos irmãos e irmãs, com suas histórias concretas, cheias de fragilidades e alegrias.
Ensine-nos a distribuir o seu unguento, que é a misericórdia infinita,que é o verdadeiro descanso,e o amor divino que humaniza.
Para que, quando acompanharmos nosso irmão, não procuremos por nós mesmos,mas o que você sonhou para ele,e que essa seja nossa única alegria.
Oramos à sua Santa Mãe,Nossa Senhora do Bom Conselho,que nos acompanhe em nosso serviço e, como ela, que todos nós, como ela, estejamos à escuta de sua Palavraque rompe toda surdeze sempre chama para a vida.
Irmãos e irmãs, despedimo-nos de vocês e desejamos que “a paz esteja com todos vocês que estão unidos a Cristo” (1 Pedro 5:14).
Fraternalmente, os formadores da Ordem se reuniram em Bogotá, em 20 de julho de 2024.