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Pedro, a rocha da unidade: o papado segundo Santo Agostinho em tempos de conclave

Um pastor para a unidade

A cada Conclave, quando os cardeais se reúnem sob a cúpula da Capela Sistina para discernir o sucessor de Pedro, o coração da Igreja bate com intensidade especial. Nesse clima de oração, esperança e discernimento, a figura do Papa aparece não como a de um monarca absoluto, mas como o servo da unidade, o pastor universal chamado a confirmar seus irmãos na fé (cf. Lc 22:32). Esse entendimento, longe de ser uma invenção recente, tem suas raízes nos primeiros séculos do cristianismo. Um dos testemunhos mais lúcidos e equilibrados sobre o ministério petrino vem de Santo Agostinho de Hipona (354-430), cuja doutrina sobre o papel de Pedro e sua ligação com o episcopado romano é profundamente sugestiva hoje.

Pedro como uma figura de proa da Igreja universal

Para Agostinho, Pedro não é simplesmente o primeiro entre iguais, nem é um superapóstolo separado dos outros. Ele é, antes de tudo, o símbolo da Igreja como um todo. No Sermão 295, 2, 2, Agostinho afirma vigorosamente:

“Entre os apóstolos, Pedro sozinho quase sempre merecia representar toda a Igreja. […] Não foi um homem que recebeu as chaves, mas a unidade da Igreja”.

Aqui, Pedro é o portador de uma missão que transcende sua pessoa: representar a unidade visível do Corpo de Cristo. As chaves do Reino não são propriedade privada, mas a expressão sacramental de uma comunhão vivida e guardada.

A Cátedra de Pedro: Primado da Comunhão

Além do simbolismo, Agostinho reconhece uma realidade concreta e eclesial na Sé de Roma. Na Carta 53, 1,2, ele escreve:

“Para a cátedra de Pedro, na qual a primazia da sé apostólica sempre esteve em vigor.”

Não se trata aqui de uma questão de supremacia política ou jurídica, mas do reconhecimento de um ponto de referência apostólico e espiritual, em torno do qual se manifesta a comunhão das Igrejas. Agostinho ressalta essa dimensão quando também afirma, em Contra a Carta de Petilianus, que:

“O mundo inteiro está unido em comunhão com esta sede”.

Do norte da África até os confins do Império, a comunhão com Roma é um sinal de pertencimento à Igreja una, santa, católica e apostólica.

Confessar a fé: o fundamento do ministério petrino

Santo Agostinho é particularmente incisivo em sua interpretação da famosa passagem do Evangelho: “Você é Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja” (Mt 16:18). Em seu Tratado sobre o Evangelho de João (Tractatus 124,5), ele comenta:

“O que significa ‘sobre esta pedra edificarei a minha Igreja’? Sobre esta fé, sobre o que foi dito: ‘Você é o Cristo, o Filho do Deus vivo’.”

Assim, a rocha não é tanto a pessoa de Pedro isolada da comunidade, mas a confissão de fé que Pedro proclama em nome dos discípulos. Essa fé apostólica é o fundamento vivo sobre o qual Cristo constrói sua Igreja. O ministério petrino, portanto, não é uma prerrogativa pessoal, mas uma vocação para o serviço da fidelidade evangélica.

Uma lição para hoje

Nesse contexto, o pensamento de Santo Agostinho oferece uma chave valiosa para você entender o profundo significado do papado em tempos de eleição. O Papa não é o mestre da Igreja, mas seu servo; ele não é a fonte da verdade, mas uma testemunha da Verdade encarnada. Sua autoridade reside em sua fidelidade a Cristo e à fé apostólica, e sua missão é proteger a unidade visível dos crentes. Por meio de Pedro, como diz Agostinho, “toda a Igreja fala”. A eleição de um novo Papa não é apenas uma questão eclesiástica, mas um momento espiritual de comunhão, esperança e conversão.

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