Ato inaugural
Na sessão inaugural, frei Miguel Miró Miró recordou a importância do labor educativo da Ordem e disse que ao ser Deus o destino do homem, o processo educativo não pode ser outra coisa que um caminho de crescimento humano aberto à transcendência, e por tanto marcado pela fé. Para santo Agostinho, o fim da religião e o objetivo do ensino coincidem: atingir a verdade e o bem. Propôs aos professores “reafirmar e aprofundar na identidade católica e agostiniano-recoleta dos centros educativos da OAR e fazer seu o repto de um projeto educativo institucional que responda às necessidades da sociedade atual”.
Assegurou que a fé em Jesus e a interioridade agostiniana não se opõem aos valores humanos nem a uma oferta educativa de qualidade. Explicou que o que cabe é a coerência: “não podemos atuar na educação como aqueles que não têm fé. Hoje não podemos nos sentir complexados por pertencer a um centro católico. Com singeleza e sem ambiguidade, temos que oferecer uma educação católica que seja integradora, aberta, solidária e respeitosa com a dignidade de toda pessoa humana”. Além do mais, disse, os centros agostinianos recoletos podem e devem oferecer um plus agostiniano, “que com uma pedagogia fundamentada no amor eduquem a mente e procurem chegar ao coração das pessoas.”
Frei Miguel Miró destacou a necessidade de não se conformar com transmissão uma série de valores de maneira racional e estéril, mas é preciso suscitar o encontro pessoal com Jesus, máximo promotor do desenvolvimento integral da cada pessoa e motivo de felicidade.
Ante uma sociedade supersaturada de dados e informação “que termina nos levando a uma tremenda superficialidade à hora de propor as questões morais –disse citando A Alegria do Evangelho-, se volta necessária uma educação que ensine a pensar criticamente e que ofereça um caminho de maturação de valores”.
Ao longo de sua exposição, o pade geral da Ordem aprofundou sobre as declarações de Papa Francisco em Evangelii gaudium, bem como documentos agostinianos, e fez um significativo percurso pela história da Recoleção em matéria educativa. Destacou, em sua conferência, as contribuições da Província da Candelária que, desde 1647, se comprometeu com colégios em Costa Rica e, posteriormente, abriu outros na Espanha, Colômbia e Filipinas. Recordou Santo Ezequiel Moreno, que, de missionário nas Filipinas, chegou a Colômbia e fundou um colégio em Casanare. Em 1939, é aberta uma escola em Manila e o Capítulo Provincial determina que sejam fundados colégios de ensino primário e superior. “Fruto desta determinação é a fundação em 1941 dos colégios de Santo Tomás de Vilanova (San Carlos) e San Sebastián (Manila) em Filipinas, e Frei Luis de León (Caracas) em Venezuela, que se tornaram pilares da atual estrutura educacional da Ordem (Martínez Custa)”.
Frei Miguel Miró informou que há ao todo 48 colégios Agostinianos Recoletos, em doze países, com mais de 82 mil alunos e cerca de quatro mil e quinhentos professores, além dos trabalhadores não docentes e religiosos dedicados a este apostolado e diretores leigos.
Recordou, ainda, aos presentes, que o lema dos colégios Agostinianos Recoletos é Amor e Ciência, educar a mente e o coração. “Hoje já não podemos pensar em manter um colégio para obter recursos econômicos, nem para dar utilidade a um edifício. Não basta ter um colégio; mas que haja um colégio católico agostiniano. A educação é uma tarefa exigente que requer preparação específica e dedicação pessoal”. Além disto, disse, a educação é uma missão compartilhada com os leigos: a comunidade educativa é composta de estudantes e suas famílias, os docentes leigos e religiosos, e o pessoal com funções diretivas. “O itinerário intelectual e espiritual de santo Agostinho é uma proposta válida para um projeto educativo integrador da pessoa e para a construção de uma sociedade mais humana, justa e solidária”.
Cardeal Lacunza: Santo Agostinho, Aparecida e Papa Francisco estão em sintonia
No jubileu da misericórdia, a educação não é só uma obra de misericórdia, sina que a educação é o melhor apostolado, como nivelador de oportunidades e o melhor elevador social. Tanto que, se fôssemos capazes de oferecer uma educação de qualidade a todos acabaríamos com a fome com os sem teto com as desigualdades e a marginalização. Com estas palavras, o cardeal José Luis Lacunza Maestrojuán, OAR, animou a professores agostinianos recoletos a aplicar a pedagogia agostiniana e a considerar os propósitos que, sobre educação, são listados no documento de Aparecida.
“Atualmente cometeram-se graves faltas à cultura e inclusive à gramática. Por exemplo, já se apagaram os pronomes “o, ela, nós… Só se usa eu, meu me…”, disse o cardeal durante sua conferência “Evangelización e Cultura”, no Congresso Internacional de Educação Agostiniana. Diante de pelo menos 500 professores dos colégios Agostinianos Recoletos, tanto de Colômbia, onde há sete, como de Panamá, Filipinas, República Dominicana, Costa Rica, México, Guatemala, Argentina e Espanha, o cardeal Lacunza recordou o Documento de Aparecida, onde se adverte sobre a emergência educativa em América Latina: “América Latina e o Caraíbas vive uma particular emergência educativa, especialmente pelo reducionismo antropológico já que concebem a educação, preponderantemente em função da produção, a competitividade e o mercado, e com frequência promovem valores que atentam contra a vida, a família e uma sã sexualidade. Não ajudam aos jovens a desenvolver os melhores valores humanos. Trata-se, com frequência, de uma educação sem valores”.
Para destaque da educação, ética, religiosa e da cultura, a fim de atingir a liberdade ética, disse o cardeal, é preciso que o jovem desenvolva hábitos de entendimento e iniciativas de comunhão, conforme a ordem real. “Desta maneira, o ser humano humaniza seu mundo, produz cultura, transforma a sociedade e constrói a história”. Disse que o Documento de Aparecida marca três objetivos essenciais na educação da escola católica: a educação na fé deve ser integral e transversal em todo o currículum; a comunidade educativa deve assumir seu papel de formar discípulos missionários; e deve promover um serviço pastoral no setor no qual está inserido.
De santo Agostinho, a contribuição de Dom Lacunza foi a proposta a todos os acadêmicos de estudar De catechizandis rudibus. Ensinar aos meninos e jovens a amar a Verdade. Convidou aos participantes a descobrir a pedagogia agostiniana, “que é humanista e ascética, que ilumina nossa inteligência e nos ajuda a conhecer a lei eterna … e na qual o decisivo é a formação da vontade”.
Aos nativos digitais, advertiu que em De catechizandis rudibus santo Agostinho oferece uma série de características e qualidades do bom catequista (neste caso, os professores) em sua relação com os formandos, em quem santo Agostinho também vê mestres, de modo que todos somos aprendizes e mestres, “Como se vê em sua obra O Maestro”. E destacou o diálogo, a proximidade e a confiança, com o método de perguntas e respostas que ajudam a uma maior aprendizagem, maior proximidade, confiança e alegria. O mestre deve ser apresentar-se sempre com alegria. “E o Papa Francisco nos convida precisamente a uma nova etapa evangelizadora marcada pela alegria”, disse Dom Lacunza.
“Neste mundo em que predomina o tecnológico, santo Agostinho nos diria o que em seu tempo disse: estuda humanidades para que seja humano, e recomendou a que todos estejamos adornados pela caridade e verdade”. Precisamos, disse, de mestres capazes de denunciar a hipocrisia de quem se preocupa apenas com as aparências e se omitem das formas morais.
Após o recesso, frei Ezequiel Oscar Soria, cujo tema foi “Amor e Ciência, Educar a mente e o coração”, fez uma exposição criativa e cheia de conteúdo espiritual, afetivo e emocional. Surpreendeu-nos com a projeção de fotografias de personagens reais no âmbito da educação agostiniano-recoleta em Argentina. Em frente a cada foto, fez memória histórica da vida dessa pessoa, como testemunha da alegria no processo de ensino-aprendizagem, seja como professor ou estudante. O fato é que a cada testemunho narrado, começando com a história do expositor, ficou evidente a Graça de Deus e os frutos da relação pessoal com Jesus e com os irmãos em ambiente de fraternidade e comunidade no âmbito acadêmico católico e agostiniano. A grande lição de Ezequiel Oscar Soria foi que para ser um genuíno professor com espírito cristão e agostiniano, é preciso começar por ter uma relação de amizade com Jesus, reconhecer que cada história é única e irrepetível, e que ante os desafios e das necessidades da vida, surge uma solução criativa, que costuma ser muito melhor quando em comunhão, com espírito de amor e comunidade. A singeleza de sua exposição foi uma grande contribuição e uma vez mais fica provado que as histórias humanas são o melhor ensino de vida, verdade e amor.
Pela tarde, após almoço, Jesus María Ramos apresentou em video sobre a vida e conquistas da Cidade dos Meninos em Costa Rica, como colégio tecnológico agostiniano; o senhor Anthony Dupont, procedente da Bélgica, falou da importância de santo Agostinho para a Educação Religiosa Contemporânea; e foram apresentados os livros “A Graça nos sermões ad populum de santo Agostinho durante a controvérsia pelagiana”, escrito por Anthony Dupont, e o livro “Caminho de sabedoria”, de frei Enrique Eguiarte.
O congresso, que se finalizará o 27 de agosto, pode ser seguido por estes links:
https://www.uniagustiniana.edu.co/congresoagustiniano/
https://www.agostinianosrecoletos.com.co/