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Rafael Nieto: “Ilustrar é como fazer exegese, precisa estudo e a luz do Espírito”

Licenciado em Teologia pela Universidade Pontifícia de Salamanca. Estudou dois anos a mais de especialização em Madrid centrando sua investigação de final de carreira no trabalho que leva o título “Imagens da cruz e do crucificado. Leitura iconológica e uso pastoral. Exposição As Idades do homem”. Interessado em tudo o que tenha a ver com o uso das imagens ao longo da história, está convicto de sua necessidade e seu poder.

P.- De onde vem teu gosto pela arte?
R.- Sempre senti inclinação para desenhar, pintar, esculpir … Por um lado me dá satisfação, me sinto bem, por outro sinto necessidade vital de expressar de forma artística o que outros fazem através das palavras. Além domais, o domínio das diferentes técnicas artísticas exige método, paciência… é uma magnífica escola para o crescimento pessoal e da oportunidade para conhecer personagens muito interessantes.

Estilo próprio

P.- Você tem desenvolvido uma iconografia própria dos Agostinianos Recoletos. Em que está inspirada?
R.- Antes de mais nada é necessário um esforço de documentação. Tudo está já na tradição. A mensagem que quer ser transmitida é a mesma de sempre, o que muda são os códigos de comunicação e a técnica artística. Um painel românico transmite uma mensagem usando uns códigos visuais (composição, tamanhos, cores…), uma tábua gótica volta a transmitir a mesma mensagem, mas a linguagem visual tem evoluído. Este processo chega até os nossos dias, onde temos perdido a capacidade de interpretação, o grande público não entende a mensagem que transmitem, e as técnicas clássicas tem dado passo a outras que pelo geral despistam bastante. Na hora de fazer uma iconografia agostiniana o maior esforço é encontrar os códigos visuais que permitam comunicar uma mensagem e que possa ser lido por qualquer pessoa da nossa sociedade. É um esforço de re-interpretar uma mensagem à linguagem do nosso tempo. É o mesmo esforço que de geração em geração tivemos que fazer na hora de ler e interpretar a Sagrada Escritura… e do mesmo jeito que os exegetas, alem de estudo, faz falta a luz do Espírito.

P.- Neste portal tem colaborado com ilustrações de santos e criatividades para o calendário litúrgico. Por que tem se implicado?
R.- Há cem anos os nossos frades pregavam nos púlpitos das igrejas e nas revistas. Era o jeito de chegar até pessoas. Hoje em dia os foros são outros. Internet abre um campo de possibilidades infinitas e é um canal de comunicação imprescindível para quaisquer uma instituição séria que deseja se relacionar. Se um dia pregas numa igreja, vão te escutar cem pessoas, se publicas um livro, com um pouco de sorte te lerão outras cem, mas se publicas alguma matéria na rede tua mensagem chegará a muito mais pessoas numa área de ação geográfica sem limites com umas despesas de produção pequenos. Internet não é o futuro, é o presente, e se não tiver presença na internet, simplesmente não existe.

Arte na internet

P.- Tanta confiança você tem na internet?
R.- Os Agostinianos Recoletos, como Ordem, precisam duma presença na internet. Além domais deve ser uma presença séria, que conte o que fazemos, o que somos e naquilo que estamos comprometidos. E aqui tão importante é a mensagem quanto as formas, por isso é necessário nos apoiar em profissionais que nos ajudem a fazer as coisas bem feitas. Pessoalmente acredito que hoje é mais interessante investir na presença profissional na internet que publicar livros do jeito tradicional. Atingimos mais pessoas. Quando os responsáveis por este portal me pediram colaboração, não podia me negar. Sempre tenho colocado meu trabalho a disposição de quem quiser usar-lho. Tem licença concedida. Com muito mais motivo pode ser usado pelo portal oficial da minha Ordem. É um motivo de orgulho e de certa forma um reconhecimento ao trabalho destes anos.

P.- Que comentários tem recebido em relação às ilustrações publicadas na www.agustinosrecoletos.com/?
R.- Quando tenho saído fora da Espanha e tenho-me apresentado em alguma das nossas casas ao falar meu nome de imediato dizem “o dos desenhos”. O material está posto a disposição de quem quiser usar livremente.

P.- Onde que pode ser vista a tua obra, tuas ilustrações, desenhos, esculturas, vidraças, fotografias…?
R.- São muitas pessoas que me pedem desenhos, desenhos de folhetos, cartazes… Para estar em consonância com os novos tempos, e visto que é cômodo, rápido e prático tenho editado uma página pessoal www.rafaelnieto.com na qual aparecem tudo o que possa ser interessante para os nossos frades e para todas as pessoas. Podem baixar o que quiserem e usar-lho livremente.

Gratis e valioso

P.- Por que presenteias tua arte?
R.- Todo o material está a disposição de quem quiser usar-lho, mas eu não dou nada de graça. Frente a uma tradição que valoriza o uso das palavras é importante que hoje aprendamos a valorizar um outro tipo de linguagem, como é o gráfico, fotográfico, artístico… que também exigem tempo e esforço. Se estamos acostumados a valorizar a dedicação que supõe dar uma palestra, também deve ser valorizado o esforço que leva fazer uma boa fotografia, desenhar a capa de um livro, ou editar uma página web. Infelizmente parece que hoje em dia o que é de graça não tem valor. Uma coisa é o valor e outra o preço. Não presenteio nada, recebo outra classe de satisfações a nível pessoal e comunitário.

P.- Qual foi o último que fez e em que projetos estás trabalhando atualmente?
R.- O último foi completar as imagens dos santos que estavam faltando e fazer a capa para um livro sobre o Frei Genaro, que será editado em Roma. Estou estudando heráldica, que está sendo muito interessante comparando com o uso que hoje se faz dos logos e das grandes instituições financeiras e políticas.

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