Pensamento 06 6

Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo (C)
Lc 9,11b-17: Homilia de Santo Agostinho (Sermão 57,7)

“Esta petição do pão de cada dia há de entender-se, certamente, de duas maneiras: quer pensando na necessidade de sustento da carne, quer ainda levando-se em conta a necessidade de nutrição espiritual. Contempla-se a necessidade de alimento carnal, sem o qual não podemos viver, em razão do sustento de cada dia. O sustento inclui também o vestuário, embora aqui se tome a parte pelo todo. Quando pedimos pão, recebemos com ele todas as coisas. Os fiéis conhecem, além disso, um alimento espiritual, que vós igualmente chegareis a conhecer e a receber do altar de Deus. Tal alimento será também pão de cada dia, necessário para esta vida. Ou receberemos, por acaso, a Eucaristia quando tivermos chegado ao próprio Cristo e tivermos começado a reinar com ele para sempre?

Logo, a Eucaristia é o nosso pão de cada dia: recebamo-lo, porém, de tal modo que não alimentemos tão-somente o ventre, mas também a mente. Com efeito, o própria força que ali se vislumbra é a unidade, a fim de que, conduzidos a seu corpo e tornados membros seus, sejamos o que recebemos. Então ela será efetivamente o nosso pão de cada dia. Também o que vos exponho é pão de cada dia. É pão de cada dia que ouçais diariamente as leituras na Igreja; pão de cada dia é, ainda, que ouçais e reciteis os hinos. Pois estas coisas são necessárias à nossa peregrinação. Acaso, quando tivermos chegado lá, ouviremos a leitura do códice? Havemos de ver a própria Palavra, de ouvir a própria Palavra, de comê-la e de bebê-la como agora o fazem os anjos. Para os anjos são acaso necessários os códices ou os pregadores ou os leitores? De modo algum. Eles leem vendo, pois veem a própria Verdade e se saciam daquela fonte donde nós somos aspergidos. Falouse, pois, sobre o pão de cada dia, porque, nesta vida, tal petição nos é necessária”.

(Trad. de Luciano Rouanet, oar)


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