Jo 13,1-15: Homilia de santo Agostinho (Comentários sobre o evangelho de São João 56,1-3)
“Quando o Senhor se pôs a lavar os pés de seus discípulos se aproximou de Simão Pedro. Mas Pedro lhe disse: Senhor, queres lavar-me os pés (v. 6)! Quem não se encheria de estupor se o Filho de Deus lhe lavasse os pés? E mesmo sendo uma audácia o servo resistir ao Senhor, o homem a Deus, Pedro o preferiu antes de consentir que seu Deus e Senhor lhe lavasse os pés… Mas Jesus lhe respondeu: O que faço não compreendes agora, mas compreendê-lo-ás em breve (v. 7). Espantado pela grandeza da ação divina, resiste ainda a permitir aquilo cujo motivo ignora. Não quer ver, não pode suportar que Cristo esteja prostrado a seus pés. Jamais me lavarás os pés (v. 8), disse. Que quer dizer jamais? Nunca o tolerarei, nunca o consentirei, nunca o permitirei.
Então o Senhor, assustando àquele enfermo obstinado que punha em perigo sua própria salvação, lhe replica: Se eu não tos lavar, não terás parte comigo (v. 8). Disse: Se não te lavo, ainda que se tratasse somente dos pés. Da mesma maneira se diz: «Pisas-me», mesmo que só o pé pise. Pedro, perturbado entre o amor e o temor e sentindo mais horror ao ver-se afastado dele que ao vê-lo prostrado a seus pés, replica por sua vez: Senhor, não somente os pés, mas também as mãos e a cabeça (Jo 13,6-9)…
Disse-lhe Jesus: Aquele que tomou banho não tem necessidade lavar-se; está inteiramente puro (Jo 13,10). Quiçá alguém, intrigado, diga: «Se está inteiramente limpo, que necessidade tem de lavar os pés?». O Senhor sabia bem o que dizia, ainda que nossa debilidade não chegue a penetrar seus mistérios”.
(Tradução: Ademir García, oar)