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Miguel Ángel Hernández: “A maior riqueza que tem a província são seus religiosos”

Miguel Ángel Hernández Domínguez é sacerdote agostiniano recoleto. Nasceu faz 43 anos em Collado Villalba (Madri, Espanha). É provincial faz dois anos e no dia 10 de outubro começa as celebrações do centenário da sua província junto ao cardeal primado da Espanha, Antonio Cañizares, e o prior geral da Ordem Javier Guerra.

P.- O que se comemora neste Centenário e o que se pretende?
R.- Um pouco de historia para entender de forma rápida o que celebramos: Desde 1835 e até 1899 a presença dos agostinianos recoletos se reduz quase que exclusivamente às Filipinas. Mas, a guerra da independência filipina, obriga a muitos religiosos a voltarem à Península. Começa-se então, a buscar novos lugares onde viver a vida religiosa agostiniana e exercer o ministério sacerdotal, escolhendo entre outros Granada (fevereiro de 1899) – embora agora não seja no alto do Albaicín, mas aos seus pés- e Motril (maio de 1899); posteriormente chegaram a Lucena (Córdoba), muito próxima da antiga casa de Luque. Deste modo, os agostinianos recoletos retornam à Andaluzia trás um intervalo de 64 anos.

Com a saída de numerosos frades das Filipinas e sua distribuição pelas casas de Espanha, Panamá, Venezuela, Trinidad e Brasil, a Província de São Nicolau de Tolentino adquiriu tamanha dimensão, que tudo aconselhava por uma divisão por motivos de organização e melhor funcionamento. E desta forma em 1907 se produz uma primeira tentativa de restauração de uma das antigas províncias: a província de Nossa Senhora do Pilar de Aragão; mas ao estar situado o núcleo principal de casas em Andaluzia, o governo da Ordem entende que na verdade a Província restaurada deve ser a antiga província de Santo Tomás de Vilanova de Andaluzia, e assim se fez, sendo a data oficial da restauração o dia 10 de junho de 1909.



Pe. Javier Guerra e Prior Prior provincial de Santo Tomás de Vilanova.
Diversidade cultural

P.- A Província tem casas em Espanha, Brasil, Argentina e Venezuela. Como se consegue integrar esta diversidade cultural na comunidade provincial?
R.- Eu acho que as próprias circunstancias vão nos obrigando a viver esta integração cultural e vai se dando com a maior tranqüilidade. Conscientemente não temos programado nada neste sentido para favorecer e facilitar esta integração; mas sem duvida alguma, que algumas situações vividas na Província, tem contribuído para avançar nesta integração, e a principal delas tem sido o noviciado provincial, que desde o ano de 1983 recebe aos candidatos dos quatro países que integram a Província. A unificação da teologia em América durante mais de uma década, tem permitido um conhecimento e convivência estreita entre os professos de Argentina, Brasil e Venezuela, e desde o último capítulo provincial essa experiência tem se estendido a Espanha. Além dos encontros e cursos, cada vez mais freqüentes que tem nos ajudado a conhecer-nos e a entender que a realidade provincial cada vez é mais multi-cultural.

Espírito missionário

P.- Que pontos fortes destacaria na província?
R.- A maior riqueza da província são seus religiosos. A dedicação exemplar, a entrega generosa, o trabalho incansável e o testemunho de vida da imensa maioria dos nossos religiosos, esse é o nosso maior e melhor patrimônio e o tesouro da província, principalmente de muitos religiosos maiores, que simplesmente tem dado tudo pelo Reino de Deus.

P.- E necessidades?
R.- Nossas carências e necessidades são incontáveis, mas aqui o Senhor realiza a cada dia o milagre do pão e dos peixes. Quando colocamos em suas mãos o que temos, Ele o multiplica e faz com que a sua graça alcance aonde humanamente nós não chegaríamos.

Para ser mais concreto e não nos perdermos com discursos, lhe diria que necessitamos revitalizar o espírito missionário na Província, e assim o tenho manifestado aos religiosos em circular enviada com motivo do inicio do Centenário. Parece que há uma relação clara e evidente entre santidade de vida, e a disponibilidade para a missão. Acho que o espírito de comodismo e instalação está querendo se infiltrar na nossa vida religiosa y às vezes não estamos suficientemente vigilantes e atentos para evitá-lo. Outra necessidade, ou melhor, chamaria de desafio, é manter a identidade carismática nos nossos apostolados. Não é difícil descobrir que alguns frades, no que diz respeito à pastoral, vivem como sacerdotes diocesanos. Nossa pastoral, seja ela ministerial, educativa o missionária deve levar a marca da identidade agostiniana recoleta.

Juventude

P.- A Província fez uma opção forte pela pastoral jovem e vocacional. Pode explicar que se fez com motivo do ano AVAR?
R.- Temos incrementado os encontros vocacionais, tem se organizado competições deportivo-culturais nos nossos colégios, têm se realizado jornadas de oração pelas vocações e vigílias nas nossas paróquias e temos procurado impregnar todo o nosso trabalho pastoral neste ano AVAR, dessa dimensão da cultura vocacional, que o Pe. Geral se propôs resgatar neste ano; a tocha vocacional peregrinou por lugares insólitos. Eu fui testemunha da chegada dela em barco à cidade de Salvaterra, no Marajó e pude ver o entusiasmo do povo. Temos celebrado jornadas de oração para os religiosos com o tema vocacional e todas as atividades da pastoral jovem deste verão: caminho de Santiago, encontros, etc. estiveram marcadas pelo tema vocacional.

Leigos

P.- Do dia 13 ao 17 de setembro tem se celebrado o primeiro encontro das fraternidades seculares da Província com o lema “Em comunhão com os irmãos”. Que destacaria deste encontro?
R.- Primeiro a sua realização, porque não é fácil juntar irmãos da Argentina, Brasil e Venezuela na Espanha durante cinco dias e em plena crise econômica. Diziam-me, pulando de alegria os fraternos, que esta convocatória tem sido uma loucura e um sonho, mas como estava no coração de Deus o sonho se realizou e os frutos virão. Não tenho a menor duvida.

Segundo, a acolhida que tem havido por parte dos religiosos, principalmente vigários provinciais e assistentes religiosos das fraternidades, que tem se envolvido ao máximo para facilitar as coisas e ajudar aos que deveriam viajar para Espanha. E muitos religiosos, principalmente na Espanha, que tem dado tudo de si para que as coisas saíssem o melhor possível.

Terceiro, a experiência de comunhão que temos vivido não tem preço. Temos falado a linguagem que todos compreendemos, que é a linguagem do amor. Quarto, a riqueza de conteúdo dado aos assistentes ao encontro, que foi muito intenso, a dinâmica seguida, muito acertada e a fraternidade vivida. Por ultimo, estou seguro que o melhor deste encontro ainda está por vir. Demos tempo ao tempo.

Venezuela

P.- Na atual conjuntura sociopolítica da Venezuela, qual é a situação dos ministérios e dos religiosos?
R.- Nosso Vicariato de Venezuela é pequeno em número de casas e em religiosos. Apenas contamos com quatro comunidades e com 17 religiosos. Os frades, em geral estão tranqüilos e felizes de poder trabalhar naquela terra e com aquele povo maravilhoso. Nossa presença, no geral, se dá em áreas pobres e o governo não tem mexido conosco; inclusive administramos um colégio que era de uma petroleira americana e ao passar esta a ser propriedade do estado, pensamos que a tiraria de nós, mas até o momento, aí estamos. Nos últimos anos tem se incorporado ao Vicariato, vários religiosos jovens com muita vontade de trabalhar e esperamos que logo comecem a aparecer os frutos vocacionais. Neste tema precisamos melhorar muito.



Missionários em Marajó.
Brasil

P.- Em Brasil a Província conta com um território de missão em Marajó. Que necessidades tem atualmente os missionários?
R.- Quando a gente olha pra aquele povo pobre do Marajó, você repara que precisa de muitas poucas coisas e sinceramente acho que as necessidades materiais dos nossos missionários estão muito bem cobertas pela generosidade do Vicariato do Brasil. Pra dizer a verdade, a parte material é a mais fácil de resolver, porem nossos missionários necessitam de mais religiosos que reforcem as comunidades, para que não sofram tanto a solidão quando um deles se adentra nesses rios de Deus por vinte dias fazendo a desobriga às comunidades ribeirinhas. Nossos religiosos necessitam que lhes proporcionemos encontros formativos, para continuar atualizados, mesmo que seja para trabalhar na floresta amazônica; precisam de momentos fortes de espiritualidade, retiros para se abastecer e não perder de vista quem foi que lhes chamou e em nome de Quem estão lançando as redes e anunciando sua palavra; necessitam sentir-se parte da Província e da Ordem, por isso é tão necessário que participem dos encontros e cursos que se organizam, para assim reforçar os vínculos de Ordem e Província e não se perca a identidade carismática. Nossos religiosos, necessitam por ultimo de lazer, descontração, descanso e de desconectar de vez em quando da missão e de conviver com comunidades mais numerosas para sentir a alegria da fraternidade.

Argentina

P.- Que papel ocupa a Província na Igreja da Argentina?
R.- Numericamente nossa presença na Argentina não é especialmente relevante, mas a nossa historia e o nosso trabalho nestes oitenta anos de presença tem sido significativa e a Ordem é reconhecida, querida e respeitada pelos seus pastores e amada pelo povo. Como dados que confirmam tudo isto, lhe direi: que o vigário geral da diocese de São Martin (Na Grande Buenos Aires) é um agostiniano recoleto, o Pe. Imanol Larrínaga; que o P. Carlos Mª Domínguez, Vigário Provincial é o assessor nacional da pastoral da juventude na Argentina; que o itinerário que seguimos com os jovens das JAR (Juventudes Agostinianas Recoletas) está sendo seguido, adotado e implantado em muitas dioceses onde não estão presentes os nossos religiosos, e por ultimo, que em Santa Fé mais de 700 jovens freqüentam as comunidades de jovens das JAR. Isto, no que diz relação aos dias atuais, se nos remontamos a épocas mais distantes, lhe direi literalmente o que me falaram os leigos na visita de renovação a Villa Maipú, bairro obreiro da diocese de São Martín: “nenhuma instituição tem feito tanto pelo bairro como os agostinianos recoletos com a escola de artes e ofícios que abriram”.



Cardenal Re e o Prior Provincial de Santo Tomás de Vilanova.
Futuro

P.- Atualmente para onde vai a Província de Santo Tomás?
R.- Neste momento no existe um debate interno sobre a necessidade de fechar ministérios na província. Sim pensamos que num futuro não muito distante, entregaremos ao bispo de Marajó uma das comunidades que atendemos, porque devemos ir deixando espaço para os padres diocesanos, que graças a Deus vão surgindo na prelazia. O bispo conta já com sete sacerdotes nativos e dois sacerdotes poloneses que tem contrato com o bispo.

Pessoalmente gostaria que na Venezuela pudéssemos abrir uma nova comunidade que fortaleça a presença da Província neste país. Estudam-se as possibilidades e vamos dando alguns passos.

Em Maringá (Brasil) onde temos o seminário de Filosofia, o arcebispo quer que assumamos uma paróquia, mas por enquanto e vista a falta de pessoal não é possível. Em relação aos apostolados que se estão impulsionando, comentar que no Brasil tem se trabalhado muito no trabalho social. Temos melhorado as infra-estruturas das nossas paróquias e ministérios para acolher este tipo de trabalho social. Há alguns anos que construímos um centro social em Belém, uma escola infantil em Breves (Marajó), temos dobrado a capacidade da escola infantil Santa Rita na favela do Vidigal (Rio de Janeiro) e temos melhorado muito as instalações para a atenção aos necessitados na paróquia da Saúde em São Paulo.

Na Argentina temos apostado pela educação e arriscamos estabelecendo o ensino médio nos colégios de Santa Fé e Rosário e se continua trabalhando fortemente na pastoral jovem e na pastoral vocacional, que tem sido uma das marcas deste Vicariato. Na Venezuela está se trabalhando muito com a pastoral jovem e vocacional, rara é a semana que não tem algum encontro organizado.

E na Espanha, nestes tempos difíceis que estamos vivendo, tentamos principalmente dar testemunho do que somos e dos valores do Reino. Não desistimos dos nossos projetos e continuamos trabalhando com a juventude nas paróquias e colégios e inclusive onde a Ordem não está presente como San Sebastián e Sevilla, onde temos dois centros para a juventude. Trabalhamos nos meios de comunicação, revitalizamos a revista de “Santa Rita e o povo cristão”, uma publicação centenária que chega a mais de 21 mil famílias e não descuidamos o trabalho com as fraternidades seculares. No passado 17 de setembro emitiram as promessas 23 fraternos em Monachil.

Em relação à colaboração com a Ordem, apenas dizer que temos a cinco religiosos entre as casas da Cúria Geral em Roma e a casa de Santo Ezequiel em Madri, trabalhando ao serviço da Ordem..



Selo do centenário.
Centenário

P.- Poderia descrever a grandes rasgos os atos principais programados para o Centenário da Província?
R.- A celebração eucarística de apertura nas terras do nosso padroeiro, Villanueva de los Infantes (Ciudad Real) que presidirá o cardeal de Toledo e primado de Espanha, Mons. Antonio Cañizares; a peregrinação que no dia seguinte realizaremos a Valença, onde Tomás foi o pastor solícito e guia do rebanho.

O Congresso que celebraremos na Universidade de Granada sobre a vida e espiritualidade da Província nestes cem anos, acompanhada de uma exposição artística e fotográfica.

A adoração perpetua na Província durante este ano jubilar. Todos os dias uma comunidade da Província estará diante do Santíssimo agradecendo o dom que o Senhor tem nos feito e colocando nossas necessidades.

Também estamos oferecendo aos religiosos a possibilidade de viver uma experiência que estamos chamando de “oração e simplicidade” em alguns lugares de cada área da Província, durante quinze ou trinta dias em clima de retiro e de escuta da palavra de Deus.

Os materiais de divulgação que irão aparecendo no decorrer do centenário, e os numerosos encontros programados com as famílias, catequistas, professores, jovens, religiosos, etc.

Painel alguns atos do centenario

– Celebração Eucarística de apertura do Centenário presidida pelo Emmo. E Rvdmo. D. Antonio Cañizares Llovera, em Villanueva de los Infantes (Ciudad Real) no dia 10 de outubro de 2008 às 18:00 hs.

– Congresso sobre a vida, espiritualidade e missão da Província na Faculdade de Teologia de Granada a celebrar-se entre os dias 07 e 10 de maio de 2009.

– Eucaristia do Centenário no dia 09 de junho de 2009 na paróquia Santa Mônica de Madri e na paróquia de Santo Tomás de Villanueva em Granada.

– Missa de encerramento do Centenário no dia 10 de outubro de 2009 na paróquia Santa Mônica em Madri.

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