Yuso dispõe de uma espetacular biblioteca conservada sem alterações durante séculos. Há nela dezenas de pacotes contendo documentos. No entanto, o mosteiro dispunha de uma grande quantidade de papéis "desordenados", repartidos pelo arquivo do mosteiro, outras dependências "e quase em cestos", explica Olarte, que contou com o financiamento do Parlamento de La Rioja para realizar este trabalho.
"O trabalho tem sido imenso, só na parte medieval, que estava mais estudada, pensávamos que havia 1.300 documentos até o ano 1500 e me deparei com mais de 1.800", explica.
O mais antigo, de 759, é "uma cópia exata de um documento sobre a fundação do mosteiro de monjas de San Miguel de Pedroso -um município burgalês-, que logo é incluído no Becerro Galicano", tipo de livro em que algumas comunidades registram seu patrimônio, um dos mais valiosos arquivos medievais.
Curiosidades
Olarte reconhece que "a princípio, a documentação é pouco numerosa" e destaca casos isolados "curiosos", como um documento que copia o Becerro de Oña", do século XIV. Logo "é no século XVII que constatamos mais registros notariais", a ponto de completar 36 volumes, cada um com uma média de 400 folhas, explica.
Dentro deste trabalho de investigação, Olarte encontrou um documento sobre a vida de Gonzalo de Berceo e um manuscrito inédito de uma obra de Jovellanos.
E agora "surgiram coisas mais interessantes" como "o testamento de Diego de Estúñiga, um personagem importante na literatura da primeira metade do século XV" ou "uma carta do conquistador de Filipinas, Miguel Gómez de Legazpi", com doações e pedidos de missas "para que Deus me encaminhe", explica Olarte, com as palavras literais empregadas pelo fundador de Manila.
Investigação
Uma vez catalogada, toda esta documentação ficará no arquivo de Yuso e, independente de ser editada ou não, estará à disposição de "investigadores de todo tipo".
Porque, como explica o autor do trabalho "temos encontrado documentos que permitiriam investigar em diferentes campos, a história, a lexicografia ou a teologia".
Assim, repassa, "há cópias dos votos de San Millán em Sevilha, Extremadura, Murcia, Madri ou Castilla León", onde o mosteiro tinha posses na época medieval.
Também foi encontrado um dicionário do século XVIII de tagalo (a língua nativa de Filipinas); e "umas 200 palavras do romance (língua moderna derivada do latim), que hoje desconhecemos porque caíram em desuso".
Outros achados são um mapa original das minas de Pachuca, no México, assinado pelo secretário do vice-rei espanhol; e livros de ascética, teologia e direito monacal assinados na Santa Sá nos séculos XV e XVI.
Foi encontrada também uma ampla documentação de como se desenvolveu a desamortização nos mosteiros riojanos -também Valvanera, Navarrete ou Nájera-, realizada por um cura de Estollo que descobriu onde e com quem estavam os bens da igreja.
Século XX
E pouco depois disso, no final do século XIX, finalizam os trabalhos realizados por Olarte, mas não os documentos, porque "do século XX há muito mais, e analisá-lo tem sido um trabalho ainda mais imenso", conclui o agostiniano recoleto responsável pelo trabalho, que entre a catalogação e suas anotações escreveu mais de 3.000 folhas.
Assim, se finalizou um trabalho de quase quatro anos em que se conseguiu catalogar, ordenar e conservar documentos históricos que atestam a evolução histórica dos mosteiros de San Millán de la Cogolla, (o visigótico de Suso e o de Yuso, construído em 1053) e declarados em 1997 Patrimônio da Humanidade pela UNESCO.
E também a extensão de suas posses na Idade Média, sua influência em muitas regiões espanholas, e a importância de seus escritos, em que se encontraram as primeiras manifestações em língua romance e em que trabalhou o primeiro poeta em castelhano, Gonzalo de Berceo.