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Morre Nicolás She, o último bispo agostiniano recoleto na China

Dia 16 de setembro faleceu em Shangqiu (Henan, República Popular China) Nicolás She Jing Xian, aos 88 anos de idade, por debilidade senil. Era o último dos bispos agostinianos recoletos na China e também o último dos religiosos que permaneciam na missão desde antes da revolução comunista.

Nicolás She nasceu em 1921, apenas três anos antes que a Ordem dos Agostinianos Recoletos chegasse à Missão de Kweiteh (atual Shangqiu, província de Henan). Ingressou no seminário menor dos Recoletos de seu município natal, onde também fez o noviciado e professou como religioso no dia 16 de janeiro de 1940. Depois de realizar os estudos de Filosofia e Teologia, foi ordenado presbítero dia 29 de julho de 1948.

Expulsão

Os sucessivos acontecimentos vividos pela China na primeira metade do século XX (guerra chino-japonesa, II Guerra Mundial, Guerra Civil e instalação do regime comunista) provocaram, logo após a ordenação sacerdotal de Nicolás, a expulsão dos religiosos espanhóis, a dispersão dos religiosos chineses — alguns enviados a campos de concentração— e fechamento da missão.

Quando os missionários espanhóis (com o bispo, que era desta nacionalidade, à frente) foram expulsos, Nicolás She foi nomeado vigário episcopal. Exerceu seu ministério na medida do possível até que definitivamente lhe foi proibida toda ação pastoral. Em um primeiro precisou trabalhar de oculista, porém, mais tarde foi enviado por três anos a uma fábrica de ladrilhos para ser “re-educado” e mais tarde encarcerado por mais dois anos. Viveu esse tempo em situação de penúria e com o menosprezo das autoridades.



Nicolás Shi nasceu em 1921, apenas três anos antes que a Ordem dos Agostinianos Recoletos chegasse à Missão de Kweiteh (atual Shangqiu, província de Henan).
Enquanto possível continuou seu trabalho pastoral visitando as casas dos cristãos, celebrando os sacramentos e dirigindo sua oração na clandestinidade. Sua qualidade humana chamou a atenção até mesmo dos que o vigiavam.

Carta de re-habilitação

A chegada ao poder de Deng Xiao Ping e o fim da Revolução Cultural em 1979 propicia que Nicolás consiga uma “carta de re-habilitação” e seja destinado à docência como professor de inglês, trabalho que exerceu até 1986, quando se aposentou.

No início dos anos 80 consegue comunicar-se com os Agostinianos Recoletos espanhóis, missionários em Filipinas, depois de quase trinta anos sem saber nem mesmo se a Ordem existia. Os próprios Agostinianos Recoletos, por sua parte, não sabiam se ainda existia algum dos religiosos chineses no continente.

Aposentado de suas tarefas docentes, Nicolás volta em 1980 a Shangqiu para dedicar-se exclusivamente à pastoral. Conseguiu que as autoridades civis devolvessem à Igreja os bens confiscados desde 1948, reabre a paróquia e faz contato com alguns dos religiosos recoletos que permaneceram na China depois da dispersão. Também começou a receber a visita de religiosos do exterior, uma vez que se permitiu viajar ao interior da República Popular.

Durante anos estabeleceu uma relação com as autoridades civis que passou por muitos altos e baixos, momentos de maior ou menor controle, que lhe permitiu ir abrindo caminho à vida religiosa feminina e masculina em sua diocese. Por seu trabalho leal, abnegado e exemplar, dia 8 de maio de 1991 é nomeado bispo da diocese, após 39 anos sem pastor.

Lugar de honra

Nicolás She merece um lugar de honra na história da Ordem e na da Igreja católica na China. Sua humanidade, discrição, capacidade de reação e prudência o levaram a manter sempre uma relação tensa, mas respeitosa com as autoridades. Sua figura atraiu muitos de seus compatriotas ao catolicismo e à vida religiosa.



Foi uma pessoa de profunda vida espiritual, de inabalável fé e de uma inteligência nada comum.
Foi uma pessoa de profunda vida espiritual, de inabalável fé e de uma inteligência nada comum. Não tendo vivido nunca fora da China, escrevia em latim, inglês e espanhol; chegando inclusive a traduzir textos oficiais. Quando contatou os primeiros religiosos espanhóis depois de quase 40 anos sem falar, escutar ou ler em espanhol, não teve nenhum problema em escrever cartas e informes nesta língua com uma perfeição assombrosa.

Seu amor à Ordem dos Agostinianos Recoletos na qual se formou, a que pertenceu e re-instaurou em sua diocese, com um grande florescimento vocacional, é um traço característico que todos os Agostinianos recoletos reconhecem e lhe agradecem.

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