No último dia 12 de fevereiro deu-se início aos protestos e manifestações contra o governo socialista de Nicolás Maduro presidente da Venezuela. Duas semanas depois os tumultos nas ruas continuam e o estado de tensão se agudiza na Venezuela. O vigário da Paróquia Sagrado Coração de Jesus, em Barquisimeto, Rafael Nieto, partilhou com o portal da Ordem sua visão pessoal sobre os acontecimentos vividos por Venezuela. Este é o seu relato:
Quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014
Nós estamos bem. Preocupados, mas bem. A cada noite a situação fica pior. Não sabemos muito bem o que está ocorrendo no resto do país porque os jornais e a televisão estão sob intervenção do governo. É uma censura bem sutil, mas censura tudo, do principio ao fim. A comunicação por internet não está cortada, mas velocidade diminuiu e demora muito tempo para acessar qualquer informação. Aqui nos comunicamos com os conhecidos através de celulares e mensagens whats app.
A região em que estamos é tranquila e segura. Nós não corremos perigo. Mas há regiões de nossa paróquia onde se formam batalhas campais pela noite. Domingo pela tarde o episcopado convocou a todos a rezar o rosário pela paz e pelos direitos civis. Saiu um grande grupo de pessoas. Como era uma convocatória apolítica, cuja intenção era só rezar, me pareceu inapropriado anunciar nas missas da paróquia e não estar presente. Portanto, optei por companhar aos jovens da paróquia. A caminhada se deu 50% pela região da nossa paróquia. Quase toda a cidade se mobilizou e as pessoas se alegravam ao ver-me ali. Não houve incidente, e a policia nem apareceu… Na manifestação estava uma monja da paróquia que, na quarta-feira havia sido detida por defender os estudantes. Ela estava na rua e viu como a polícia começou a disparar e se pôs a defender aos universitários. Esteve 5 horas detida pela policia. Contou-me que foi tratada com respeito, mas que estava indignada pelo que havia visto… que era humilhante o que estavam fazendo com os detidos.
Ali se escutava slogans contra o governo e apoiando aos estudantes.
Alguns dias antes os estudantes saíram de forma pacífica para pedir o fim da violência nas ruas (quase 25.000 assassinatos no ano passado), da impunidade total (só se resolvem 10% dos assassinatos), da corrupção generalizada, mas, sobretudo denunciam a escassez de alimentos, as filas e um futuro negro… O movimento é apolítico. O povo está cansado disto, de ver que não há respeito à propriedade privada e que os que estão no governo fazem o que bem entendem.
Entre os estudantes que estiveram nas ruas estavam os dos grupos juvenis da paróquia. No domingo pela manhã me contaram que a policia política do governo, a GNB (guarda nacional bolivariana) disparou à queima-roupa contra os que estavam se manifestando pacificamente. Para meter medo há grupos de motoristas que se chamam “colectivos”, e que são chavistas portanto slogans para aterrorizar as pessoas. Também falam de cubanos infiltrados que são os que mais põem lenha na fogueira.
As concentrações de protesto são à tarde. Pela manhã há uma normalidade absoluta. Mas quando escurece começam os enfrentamentos entre os universitários e a GNB. E a cada dia aumentam as exigências. Começam queimando papéis, passam a queimar as lixeiras, lançam pedras, dão disparos…. `
À noite bloquearam as ruas e queimaram pneus. E daqui de casa ouvíamos os disparos e sentíamos o cheiro de queimado. O povo da paróquia te manda mensagens contando-te o que se passa em suas ruas. As pessoas estão indignadas. Muitos presenciaram a GNB atirar nos jovens e muitos deles abrem as portas de sua casa.
Terça-feira, 25 de fevereiro de 2014
Depois de uns dias com a Internet limitada, Rafael Nieto conseguiu enviar, através de Telegram, uma breve mensagem, nos dando conta de uma momentânea normalização da situação. “Hi. O telefone está funcionando. Tudo bem e tranquilo neste momento” (3h50, hora espanhola)
Para uma mudança do modelo político e econômico
No último dia 12 de fevereiro iniciaram-se protestos e manifestações contra o governo socialista de Venezuela presidido por Nicolás Maduro, devido à insatisfação pela suposta violação dos direitos civis, pela escassez crônica de produtos básicos, pelos altos níveis de violência e a presumida ingerência de Cuba e o castrismo na política de Venezuela.
Um dos principais objetivos dos protestos dentro do movimento estudantil e da oposição, liderada pela venezuelana María Corina Machado e por Leopoldo López, é a mudança do modelo político e econômico e a renuncia do presidente Nicolás Maduro e de seu gabinete.