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Bispo agostiniano recoleto, ameaçado de morte

Os três bispos têm suas dioceses no Estado do Pará, localizado ao norte do Brasil, na região amazônica. A desembocadura do rio Amazonas está neste Estado, onde está localizada também a prelazia do agostiniano recoleto Dom José Luis Azcona. Este Estado é um dos maiores centros de corrupção e violência institucional do país, além de ser um dos que mais sofrem devastação da selva amazônica por causa dos interesses econômicos que ceifam vidas humanas e imensas extensões de terra. Além dos três bispos há um sacerdote ameaçado.

Estas ameaças costumam ser feitas mediante chamadas telefônicas, cartas anônimas, correios eletrônicos e até artigos na imprensa. Dia 26 de fevereiro foi divulgada uma conversa telefônica gravada pela polícia na qual se punha a prêmio a cabeça de um dos bispos: um milhão de reais (375.000 euros). Segundo o periódico O Liberal, de Belém do Pará, capital do estado, a “lista da morte” nesse estado tem 100 nomes, entre eles os três bispos e o sacerdote acima mencionados. Todos eles fazem parte do Programa Estatal de Proteção aos Defensores dos Direitos Humanos.

Direitos humanos

As atuações de Dom Azcona em favor dos Direitos Humanos têm um longo histórico. A Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados, de Brasília, recebeu amplos informes assinados pelo próprio bispo denunciando a situação carcerária da região, pelas mortes em massa ocorridas no município de Anajás (dentro de sua Prelazia) por uma enfermidade desconhecida e à qual as autoridades sanitárias não deram uma resposta satisfatória e responsável, ou por epidemias de malária. Segundo o Programa Nacional da ONU, o IDH na Prelazia de Marajó é de 0,627, sua renda per cápita é uma quarta parte da media nacional e mais de 40% das famílias vivem abaixo da linha de pobreza. 85% dos habitantes seria completamente dependente dos programas assistenciais do governo do Estado para sobreviver.

Em uma reunião com políticos católicos da região, Dom Azcona denunciou a “tirania do poder municipal” em uma das cidades de sua Prelazia, na qual a câmara dos vereadores chegou a boicotar um encontro da Comissão de Direitos Humanos da Assembléia Legislativa do Estado. Denunciou também o tráfico de mulheres: “Há uma máfia poderosa que comanda um esquema com lucros incríveis. Um traficante conseguiu obter a soma de cerca de 35.000 reais (13.000 euros) com a venda de uma mulher. Jesus Cristo é massacrado na dignidade das pessoas da região”, disse. O bispo chegou a denunciar um juiz de comarca por sua suposta participação em festas que promoviam o sexo com menores. O tráfico de mulheres tem sido um dos problemas sociais que mais tem afetado sociedade local. A Igreja vem atuando neste caso pondo-se à frente das investigações e denúncias. Dom Azcona também tem atuado como declarante na Comissão Parlamentar de Investigação sobre o tráfico ilegal de animais e plantas silvestres da fauna e flora brasileiras.

Solidaridade episcopal

Dom Erwin Krautler, Bispo de Xingu, Dom José Luiz Azcona Hermoso, de Marajó e Dom Flavio Giovenale, Bispo de Abaetetuba, são os prelados ameaçados. Os três pastores governam dioceses que pertencem a Estado do Pará (noroeste do país). Durante a 46ª Assembléia Geral da CNBB, os bispos do Brasil manifestaram apoio aos bispos que têm sofrido ameaças de morte. “Qualquer agressão a eles atinge a todos nós, seus irmãos no ministério episcopal, e ao povo a quem servem com destemido zelo e corajosa profecia”, afirmaram os bispos em uma nota divulgada ao final da Assembléia. “Em Cristo somos um só com eles e com as pessoas que eles defendem: os povos indígenas; as mulheres, crianças e adolescentes que o tráfico de seres humanos instrumentaliza, que a exploração sexual vende e as drogas matam. Apoiamos também seu empenho na defesa do meio ambiente que a ganância devasta com nefastas conseqüências para a vida humana. Suas lutas são, portanto, as nossas lutas, seus sofrimentos são os nossos sofrimentos”, acrescentaram.

De acordo com o episcopado brasileiro, «suas lutas são, portanto, nossas lutas, seus sofrimentos são nossos sofrimentos». O Episcopado expressou sua solidariedade com os prelados ameaçados e com as pessoas defendidas por eles: os povos indígenas, as mulheres, crianças e adolescentes instrumentalizadas pelo tráfico de seres humanos, vendidas pela exploração sexual e mortas pelas drogas. Os bispos exigiram das autoridades investigações sérias e proteção para os ameaçados. Sua vida é preciosa para o povo que defendem e para nós que lhes somos solidários. Basta de violência.

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